domingo, 13 de setembro de 2009

"Comícios e bebícios"

Carlos A.P.Ramos
Agora as legislativas, depois, não tardam, as autárquicas.
Os partidos, por cá, andam nas encolhas, no que a "comícios" diz respeito, embora surjam tresmalhados alguns “bebícios” – não pode existir uma coisa sem a outra e o período (eleitoral) é propício ao regabofe, a acreditar na teoria de que é pelo estômago que (também) se ganham votos.
A propósito: pagar um voto com um almoço (ou jantar…) é capaz de ser excelente negócio, se pensarmos que a troco de um bitoque e duas minis, além do voto prometido entre duas garfadas, fica garantido que, lá por casa, a família inteira assina de cruz no símbolo que o pagador trás na lapela; se vier uma terceira mini, à conta, jura-se "amor eterno"...
Tenho para mim que um “bebício” dá muito mais adrenalina, porque se molha a palavra e ela ( a palavra) fica audaz, torna-nos “fortes e corajosos”. Sou, como se vê, a favor dos “bebícios”, com uns coiratos salgadinhos pelo meio, mas não desdenho um bom “comício”, talvez um cozido à portuguesa, feijoada, ou umas lascas de porco no espeto, que estão na moda quando se quer festa rija, sempre acompanhadas por um tinto corrente (ou umas minis, porque não?) …
Não sou, de modo nenhum, pela refeição isolada, a dois, no estilo: fazes-me um favor (votas em mim!) e eu pago-te um almoço – é intimista em demasia, e se houver sorrisos cúmplices e malandrecos que façam acreditar na garantia da cruz no quadrado, é sinal de que a intimidade pode ir para além daquelas quatro paredes, digo eu…
Pior ainda: um “almoço de negócios “ está sujeito a regras. Por exemplo: trazer de “Paris” um mini autocarro com portugueses com a finalidade de desenharem o “sinal no quadrado”, obriga a um banquete e ao pagamento de outras despesas – favores assim não se pagam com uma modesta “almoçarada”!
Voilá”, como diz o meu amigo da casa grande, “bora” lá, digo eu a facilitar a aproximação com a malta das minis e numa brincadeirinha com destinatário. Dirá ele (o destinatário): o que importa é ganhar, não importa o preço, negócios são negócios!
Os caracteres não se medem pelas alturas: não abdico do respeito que qualquer ser humano me merece, sobretudo as crianças e os mais velhos, e não aceito que sirvam de joguetes panfletários por quem não olha a meios para atingir os fins….
Por mero acaso, tenho como fundo musical a voz do Sérgio Godinho, que vai entoando com preceito o refrão de um dos seus temas: “Arranja-me um emprego / arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, com certeza / que eu dava conta do recado e para ti era um sossego…”.
O autor esqueceu-se da “paga” de quem fica servido com o favor; como não tenho jeito para rimas, não poetizo, mas gostava...

1 comentário:

  1. Pois é, um texto bem conseguido, pena é que pouca gente o vá perceber... há que chamar "os bois pelos nomes", é que se passam por aqui coisas bem estranhas que qualquer mortal que viva a mais de 3km não se apercebe... e no entanto a cruz lá vai para "a chaminé", coisa de cegos, coisa de quem é egoísta, coisa de gente que não pensa com a cabeça mas sim com o estômago e coisa de quem as promessas são tão boas, mas tão boas, que uma cruzita feita naquele papel não custa mesmo nada (além disso, quem é que vê onde se põe a cruz????....), bom, bom é dizer que sim e chegar lá e pimba, cruz no outro, olha que era uma ideia daquelas....

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